Nos primeiros capítulos de “O outro lado do paraíso”, Clara (Bianca Bin) surgiu como uma garota caipira, ingênua. Era dona de um sotaque do interior — que volta e meia a atriz esquecia de fazer. Sua ligação profunda com o avô, Josafá (Lima Duarte), de cara, encantou o público. Em seguida, se envolveu com um homem apaixonado e violento, Gael (Sergio Guizé), se casou e foi infeliz. Depois disso, sua vida degringolou.
Quando estava no fundo do poço, conheceu Beatriz (Nathalia Timberg). A nova amiga a educou e deixou para ela uma herança milionária.
Agora, chegou a hora da virada de Clara. É um momento delicado. A personagem tem de aparecer mudada, mas não despersonalizada. A atriz vem construindo essa transição com a coerência que a tarefa pede. Méritos dela e também da direção-geral e artística (André Felipe Binder e Mauro Mendonça Filho). Claro que, numa novela, há inúmeras licenças para o exagero e “O outro lado do paraíso” não é diferente. Mas o que importa, a credibilidade, está preservada. E o público acreditou nas transformações da personagem. É o que vale.
Finalmente, a chegada de Bianca Bin ao posto de protagonista da principal novela da Globo faz pensar. É uma atriz bem jovem e formada exclusivamente pela televisão. Cheia de recursos, não parece (ainda) contagiada pela tentação de posar para a câmera, um vício que acaba reduzindo as possibilidades de muitos profissionais desse meio. Sua Clara tem sido uma alegria.